sexta-feira, 18 de abril de 2008

Temos o país que merecemos!

Ontem recebi mais um daqueles e-mails de "Leiam e passem aos vossos contactos!". Não era propriamente uma corrente de mézinhas e orações, em que se reencaminhamos para 10 pessoas nos sai o euromilhões, e se não o fizermos nos caem todos os males em cima, a começar por uma valente caganeira.



Este incitava a "Não pagar multas na hora!" Em traços gerais, sugeria que "Se cometerem uma infracção grave ou muito grave ao código da estrada, NÃO PAGUEM VOLUNTARIAMENTE. Digam ao polícia - que vai insistir convosco para pagarem logo - que preferem o depósito." Entre outras considerações relacionadas com o facto de serem retidos os documentos e de terem que ser passadas guias de substituição, de se afirmar que "Quem paga voluntariamente fica sem possibilidade alguma de se defender, porque a partir do instante em que paga assume que é culpado", o que me ficou foi o conselho em que se expressa que "Se optarem pelo Depósito e pela impugnação da contra-ordenação, obrigam os serviços da DGV" - que já não existe, digo eu - "e os Governos Civis a ficarem entulhados de processos para responder e dar seguimento. Muitos desses processos vão prescrever." E mais à frente: "Neste momento a DGV já está a rebentar pelas costuras, o sistema está à beira da ruptura. DEPOSITAR E IMPUGNAR." E termina com considerações iluminadas como "Os milhões de euros que pagamos em coimas não são aplicados na melhoria das estradas nem no aumento da segurança das mesmas."

Em nenhum lado se refere que, regra geral, as infracções graves ou muito graves ao código da estrada resultam de autênticos atentados ao civismo, e ao respeito pelos outros e por si próprio; que para viver em sociedade há que aceitar regras que a regulam, e que a violação dessas regras implica - e muito bem - penas que pretendem ter um efeito dissuasor, sob pena de isto se tornar uma selva ainda maior do que já é; em nenhum ponto se apela à adopção de comportamentos cívicos, como seja, evitar cometer infracções.

Não: adopta-se uma atitude de "chico-espertismo" tão próprio dos Portugueses: vamos atafulhar as instituições para ver se emperramos o sistema e, assim, conseguir que a nossa contra-ordenação possa prescrever, ainda que daqui a 5 minutos, quando for do nosso interesse, possamos estar a reclamar que a justiça é lenta, que os tribunais não respondem às necessidades dos cidadãos, etc., etc., etc.

Temos o País que merecemos!

E vem-me à memória um texto brilhante de Eduardo Prado Coelho, no Público, amplamente difundido na Internet, em que ele abordava exactamente esta questão, com uma profusão de exemplos bem conseguidos.

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